USA: A luta pela alma do partido democrata 

10-03-2020

VanityFair.com

Por Francisco Peixeiro. 



Após meses de campanha para os diversos candidatos, apenas cinco restaram: Joe Biden, Elizabeth Warren, Mike Bloomberg, Bernie Sanders e Tulsi Gabbard.

Chegou o momento que todos esperavam, a noite em que um terço dos delegados iria ser atribuído aos candidatos e a noite onde Sanders percecionava a Califórnia como o Estado que lhe iria garantir uma vitória clara na corrida à nomeação democrata. No entanto, a narrativa que Sanders iria garantir a nomeação nesta noite não se concretizou, com uma surpresa, não muito inesperada, de Joe Biden que foi capaz de causar uma reviravolta na corrida. 

Em prol do grande favoritismo da comunidade afro-americana de democratas dado a Joe Biden, este alcançou algo que para muitos já era impossível. Teve uma vitória esmagadora na Carolina do Sul (48.7% comparado com 19.8% de Sanders) e foi capaz de catapultar a sua campanha novamente para um estatuto de vencedor. Porém, o grande arquiteto desta vitória foi o apoio do Representante do Congresso Jim Clyburn, uma voz bastante poderosa do Estado e da comunidade que garantiu o momentum e a vitória que Biden desesperadamente necessitava. 

Contudo, a falta de afinidade do eleitorado afro-americano por Bernie Sanders não é nenhuma novidade. Em 2016 Sanders também não foi capaz de persuadir e transmitir a sua mensagem a outros grupos do eleitorado para além da sua grande base enérgica e jovem. Este é, possivelmente, o maior problema para o candidato. Nos dias que seguiram, Biden foi capaz de assegurar apoios importantes para consolidar a sua base de eleitores moderados, Pete Buttigieg, Amy Klobuchar e Beto O´Rourke apoiaram no mesmo dia o ex-Vice-Presidente de Obama.

Após a contagem e comunicação dos votos, tornou-se certo que esta corrida ao office ainda agora estaria a começar, nenhum dos candidatos alcançou uma larga maioria de delegados. Mas a maior surpresa da noite, foi a vitória de Biden em Estados que o próprio candidato não visitou nem considerou possíveis de ganhar a Sanders. Massachussets, Maine e Minnesota foram Estados que Biden conseguiu roubar a Sanders, garantindo ao candidato uma vitória de dez Estados, incluindo Texas, que se encontrava extremamente dividido entre duas alas do partido, a progressista e a moderada.

A análise da campanha de Mike Bloomberg é curta e simples: O dinheiro ainda não pode comprar tudo, com apenas uma vitória irrelevante na Samoa Americana que garantia apenas seis delegados. A estratégia de Bloomberg baseava-se na campanha em Estados da Super Tuesday, ignorando por completo os Estados iniciais visto que estes não garantiam uma pluralidade dos delegados. Bloomberg decidiu entrar na corrida como um passatempo, gastando vários milhões pelo caminho em anúncios televisivos.

 Todavia, a maior desilusão das primárias da Super Tuesday foi Elizabeth Warren, que nem o próprio Estado que representa no Senado, Massachussets, foi capaz de ganhar. A candidata não foi capaz de ganhar nenhum Estado pois tal como a própria admitiu após ter terminado a sua campanha a presidente: " Foi me dito no inicio da minha campanha que existiam duas alas no partido: uma ala progressista na qual Sanders era o titular e uma ala moderada na qual Biden era o titular, achei que esse pensamento não estava certo, mas evidentemente estava errada". Warren aparentava ser uma candidata promissora, elaborou diversos planos e situou-se como uma candidata capaz de coligar as duas alas do seu partido e derrotar Trump.

É possível concluir com toda a certeza, que a partir de agora, a batalha será entre Sanders e Biden, dois representantes de alas diferentes tal como Warren afirma. Mas não estará este acontecimento a repetir-se? Estará o partido democrata a querer repetir a triste história de 2016 ou aprendeu a dura lição proveniente da campanha Clinton vs Trump?? Só o tempo o dirá. Um dilema paira sob o partido, um candidato é incapaz de juntar à sua revolução e coligação o eleitorado afro-americano e as mulheres suburbanas e outro, não consegue incentivar o eleitorado mais jovem. No entanto, é ainda importante prestar atenção à ex-candidata Warren, o seu apoio pode vir a tornar-se fulcral para qualquer um dos candidatos. Enfatizando que esta seria uma excelente escolha para Vice-Presidente, quer para Biden, quer para Sanders.

Referências

Aleem, Z. (1 de Março de 2020). Vox. Obtido de https://www.vox.com/policy-and-politics/2020/3/1/21159961/south-carolina-primary-biden-win-clyburn

CNN Election Center. (9 de Março de 2020). Obtido de CNN Politics https://edition.cnn.com/election/2020/primaries-and-caucuses

Endorsements. (9 de Março de 2020). Obtido de Político https://www.politico.com/2020-election/democratic-presidential-candidates/endorsements/

Gambino, L. (5 de Março de 2020). Guardian. Obtido de Guardian https://www.theguardian.com/us-news/2020/mar/05/elizabeth-warren-quitting-2020-democratic-presidential-race


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