Crónica de um pandemónio anunciado

NoticiasViriato.pt
Por João Pedro Canário
Com o desenrolar da recente pandemia, muitas tem sido as divergências de opinião em relação às consequências sociais, económicas e culturais deste vírus. Ao que parece, o otimismo apoderou-se do comum dos demais. Ninguém estava preparado para viver um dos momentos mais desafiantes da nossa existência, é um facto. Outro facto é a maneira como lidamos com ele e importa saber qual a melhor maneira de o fazer.
A gravidade de todo este problema aumenta exponencialmente quando se verifica a excessiva leviandade com que certas pessoas deambulam despreocupadamente no seu quotidiano sem qualquer proteção. É certo que o bom senso coletivo é inexistente, a lógica do ´´só acontece aos outros`` impera e todas estas atitudes são revoltantes perante os esforços que todos tivemos de fazer durante tanto tempo. Não podemos tolerar que o individual ponha em causa o coletivo. Se tal acontecer será uma avalanche incontrolável.
O grande dilema é que o vírus não hibernou e convém continuar cauteloso no que diz respeito às medidas de segurança. O calor e o desconfinamento gradual entusiasmaram quem estava enclausurado. Mas, tão bem se sabe que o vírus por aí anda e não olha a quem na hora de infetar.
A única maneira de travar este vírus é a utilização de máscara obrigatória, é um acessório que todos temos de implementar urgentemente no nosso vestiário habitual. Qualquer um pode ser um revólver pronto a disparar e nem se quer sabe. Cabe-nos ser a solução e não parte deste difícil problema.
Esta pandemia, apesar de todas as consequências nefastas que traz consigo, fez questão de nos lembrar para a importância de vários conceitos e agora temos a importante missão de os reforçar daqui para a frente. As grandes lições desta pandemia são:
- Valorizar a Cultura. De facto, seria caricato ver todos aqueles que a desprezam sistematicamente sem ela neste confinamento, o que seria da sanidade mental dessas pessoas?! Tiremos de toda esta equação: filmes, séries, livros, a televisão e a rádio. Ah e a internet. Em suma,todos os produtores de conteúdos interessantes onde podemos fintar o tédio. Pensemos bem onde estaríamos. Garantidamente que teríamos com uma valente depressãopelo excesso de tempo livre ser uma grande tormenta. Por isso, é essencial um investimento mais ousado nesta área.O défice de produção de conteúdos em Portugal atinge proporções brutais em comparação com outro países, é importante impulsionar as produções nacionais estabelecendo parcerias com grandes produtoras como a HBO ou Netflix.
- Adicionar solidariedade nas nossas ações. Impõe-se mais do que nunca, arrumar numa gaveta a lógica individualista e olhar por cima do ombro. Existe sempre alguém em pior situação do que nós, isso é algo que nos apercebemos cada vez mais. Quando todos nós nos unimos somos imbatíveis, costuma-se dizer, de facto somos, porque só juntos conseguiremos ultrapassar esta tormenta.
- Reduzir a poluição. As quebras foram monumentais em virtude da quarentena global. Algo impensável antes da Pandemia. Talvez seja isto a luz ao fundo do túnel capaz de nos dar alguma esperança na luta face às alterações climáticas. Melhorou bastante, apesar de ser mais que evidente que a vida nestes tempos modernos jamais será possível sem a sua existência, cabe-nos ir atenuando a gravidade optando por um estilo de vida mais ecológico. O mais importante daqui para a frente é focarmo-nos nas prioridades e não nas banalidades. Porque verdadeiramente percebemos que o que é supérfluo de nada vale em alturas destas. Que descartemos tudo aquilo que não precisamos. Acima de tudo travarmos a fundo no estilo consumista que levámos até então.
No entanto, nem tudo é um mar de rosas e a Democracia ultrapassa um dos maiores desafios de sempre.
A comunicação social é talvez um dos setores mais prejudicados com esta pandemia, a quebra de patrocínios e principalmente nas vendas poderá causar uma grave anemia informativa a curto prazo. Sem investimentoprivado não terão meios de subsistência. Os jornais locais são os mais afetados e por isso devem ser apoiados com subscrições de novos leitores. Sem uma imprensa forte e ativa, o escrutínio hiberna. O navio fica sem comandante, encaminhando-se a passos largos para um naufrágio. A democracia corre sérios riscos de ficar em quarentena, isso não pode acontecer.
Quanto à grande missão da oposição numa altura destas é evidente: ter em conta que precisamos de unidade nacional para vencer esta crise, mas jamais subtraindo o seu papel fundamental de fiscalização e escrutínio construtivo, apresentando sempre que possível as melhores soluções alternativas que resolvam os obstáculos existentes. Nuncaexistirá apenas um caminho, existe sempre a possibilidade de traçar um melhor itinerário. Apesar de que por muitas criticas que se possam fazer à atual gestão da Pandemia por parte do atual governo pelas suas contrariedades, em comparação com tantos outros países podemos dar-nos por contentes em não termos como líder de governo autênticos genocidas dos tempos modernos como Bolsonaro ou Trump que atropelam constantemente direitos humanos, liberdades e garantias de todos os cidadãos dos seus países violando gravemente normativos impostos globalmente. A lógica do cada um por si está a ser devastadora. Basta.
Por fim, um agradecimento final a todos os profissionais que não deixam o país parar neste combate, um obrigado nunca chegará para agradecer o trabalho desenvolvido por todos. As palmas serão sempre poucas para aplaudir aquilo que tem feito. Este esforço é de um altruísmo inenarrável. O pequeno gesto de cumprirmos as regras definidas é mesmo a maior recompensa alguma vez lhes poderíamos dar. Vocês sim, são super-heróis.
Existe um antes e existirá um depois desta pandemia. O vírus até pode desaparecer por completo, mas dificilmente ficará tudo bem. Vai ficar tudo sem. Sem tudo aquilo que conseguiu recuperar nos últimos anos: o desafogo económico. Pelo menos que tenhamos aprendido algumas lições com esta situação...