Macau - a longevidade da Língua Portuguesa

Macau News
Por Marta Carvalho
As notícias são todas movidas, nos últimos meses, pela pandemia de COVID-19, pela democraticidade de um vírus, que não escolhe género, idade, ciências ou políticas, territórios ou fronteiras, que nos invade sem nome, numa inventada identidade, de forma a universalmente ser e ter nome, num corpo desconhecido.
E não aconteceu só no Oriente, e não é só aos "outros" que afeta numa pandemia. Afinal, todos são os "outros" e "outros" somos todos, desde o Oriente ao Ocidente.
Nos telefonemas para Macau, as conversas estenderam-se e alargaram-se dos cinco para os cinquenta minutos, à boa maneira portuguesa, e de súbito surge o tema da Língua falada do Português, e da importância da sua comunidade e afirmação no território Chinês, e em Macau.
Falamos dos apaixonados pela Língua Portuguesa de "Macau(eses)" no masculino, e de Macau(esas) no feminino, afinal todos sabemos, que os Portugueses encontram e criam sempre uma maneira de inventar umas 'palavritas', ainda que nem no dicionário venham; a verdade é que, é uma língua viva, rica e culta.
Há duas décadas, no final de 1999, concretizou-se a transferência para a China da soberania portuguesa sobre Macau, exercida durante 400 anos. O 25 de abril, abrira portas às conversações que culminaram com a Declaração conjunta Sino-Portuguesa, de 13 de abril de 1987. Surge a "região administrativa especial de Macau da Republica Popular da China" (RAM), ficando Macau com certa autonomia, o anterior sistema legal, e continuando o Português como uma das línguas oficiais.
Para aumentar o número de "Macau(eses)" ou de "Macau(esas), e o seu apetite e curiosidade pela literatura portuguesa, facto que deu origem a um positivo hibridismo cultural, com a chegada de intelectuais da China, provenientes das províncias fronteiriças de Pequim e Xangai, onde favoravelmente se destaca a Universidade de Macau (1982), o Instituto cultural de Macau, a par da Fundação do Oriente (1987), o Centro Cultural de Macau (1999) e do Instituto Português do Oriente (1999) importantes marcos da Cultura Portuguesa.
Escreve-se cada vez mais em Português, do cinema à literatura, das artes plásticas à música, o futuro da Língua Portuguesa vai "de vento em popa", mas não só em Macau, mas também em todo o interior da República Popular da China.
O número de docentes de Português são hoje aproximadamente quinze vezes mais do que há dez anos.
O número de estudantes de Português é hoje superior a quatro mil, contrastando com os singulares cento e setenta e seis em 2012. Parecerá paradoxal, mas afirmarmos que a transferência da soberania trouxe novas oportunidades, não apenas para a presença da Língua Portuguesa no território, mas também para a própria divulgação e maturidade da literatura de Macau. Volvidos vinte anos, do regresso à "Mãe" Pátria, Macau possui além dos canais de televisão e rádio, a publicação de quatro ornais em português. Existem hoje, oito mil alunos da nossa língua nos ensinos primário e secundário, passámos de vinte e oito escolas para cinquenta e uma escolas a ensinar português. No ensino superior, são hoje mais de mil e quinhentos estudantes nas instituições do ensino.
É muito significativa a procura da escola portuguesa em Macau, que destaca o enorme prestígio da cultura portuguesa. Mesmo com a cisão das políticas e dos territórios, ou alteração dos seus regimes, sem essa mola propulsora, a Língua de Luís Vaz de Camões soa inspirada nos corações em Terras do Oriente, e marca a sua longevidade, tanto pelo espírito como pela diversidade e interesse dos seus autores literários, cinematográficos e ou artistas plásticos.
Da Nau Catrineta, as culturas renascentistas, as palavras e a cultura Portuguesa, navegaram a Oriente e hoje, o nosso maior marco prova-se na dinâmica da Literatura e Artes, sem fronteiras da Língua Portuguesa.
Referências
André, C. A. (2020).O Progressivo Interesse pela Língua Portuguesa.Jornal das Letras.
Laborinho, A. P. & Pinto, M. P. (2020). Macau. 20 anos depois. O longo caminho da Identidade. Jornal das Letras