Uma nova direita na América do Sul?

18-12-2019

Por João Dias

A saída de Evo Morales da Presidência Bolívia pode significar que, após 20 anos, a onda reformista de caráter socialista está a chegar ao fim na América do Sul.

Após muitos protestos contra as eleições presidenciais, o povo boliviano viu o seu líder, ou agora ex-líder, cair. O ex-comandante chefe da Bolívia tentou ser reeleito pela terceira vez, o que é inconstitucional na Bolívia. Tentou, ainda em 2016, realizar um referendo para acabar com as restrições do número de mandatos presidenciais, que permitia apenas uma vez a reeleição do presidente e do vice-presidente. Realizado o referendo, as esperanças do presidente caíram por terra depois de um resultado de 51.3% contra a lei que pretendia implementar. Morales tentou mais uma vez a reeleição, inconstitucionalmente e sem apoio do povo e, por isso, depois de dois dias de protestos e com a suspeita de fraude nas eleições, o chefe abandonava agora o cargo que ocupava desde 2006.

Morales, agora exilado na Cidade do México, afirmou através das redes sociais que considera a sua retirada "um autêntico golpe de estado apoiado na sua maioria pelos EUA".

Com a recente ascensão de Bolsonaro no Brasil e com o movimento neoliberal no Chile com a liderança de Piñera, o continente sul americano pode estar a viver uma nova época na sua história, de fim do reformismo de esquerda que governou boa parte dos países do continente sul americano durante décadas.

Entretanto, a recente situação da Argentina impede que o desenvolvimento económico na zona progrida, situação essa que inclui uma inflação de 55%, uma dívida externa de 100% do PIB do país e ainda uma má relação entre o presidente Alberto Fernández e Jair Bolsonaro. Sendo o Brasil o principal agente de trocas comerciais com a Argentina, uma má relação entre os países pode causar não só a estagnação do desenvolvimento social mas também da economia nacional.

No Brasil, a realidade é bastante diferente da vivida nos últimos anos, pois desde as últimas eleições presidenciais instalou-se um ambiente que não era experienciado desde o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso. Um governo liberal de direita que procura restaurar a prosperidade económica do país através de medidas de estado mínimo e de incentivo ao empreendedorismo. Embora seja esse o principal alvo do governo e do Ministro da Economia, o principal obstáculo que o país tem é o seu próprio presidente. Jair Bolsonaro é considerado por uns como um populista de extrema direita, esses caracterizam o seu comportamento como austero, pouco solidário, misógeno e até racista. Por outro lado, muitos consideram que Bolsonaro foi o melhor de dois males nas eleições de 2018, por não ter estado ligado a nenhum esquema de corrupção semelhante àqueles a que o povo brasileiro já está saturado. Na Argentina, surge agora um novo líder ligado à esquerda que poderá fazer frente a Bolsonaro mas que pode ser muito perigoso para o país. As primeiras atitudes de Fernandes não agradaram o governo brasileiro, o que levou ao Ministro da Economia Paulo Guedes a declarar que caso a Argentina "fechasse as portas", o Brasil saíria da Mercosul (bloco de comércio livre composto ainda pelo Paraguai e Uriguai).

A ameaça brasileira pode parecer mais uma das manobras de Bolsonaro, de modo a manter o controlo e tentar liderar juntamente com Pinera o bloco sul americano no sentido de uma nova perspetiva económica. Poderá então, com a queda de Morales e a evolução económica do Brasil juntamente com a manutenção de um governo também de caráter liberal no Chile, significar a ascensão de um novo liberalismo económico na América do Sul?


Referências:

(2005). South America's leftward sweep. BBC News

Obtido de https://news.bbc.co.uk/2/hi/americas/4311957.stm

(2019). Trouble ahead for Argentina-Brazil relations?. The Economist Intelligence Unit

Obtido de https://www.eiu.com/industry/article/1328511116/trouble-ahead-for-argentina-brazil-relations/2019-10-02

Londoño, E. (2019). Bolivian Leader Evo Morales Steps Down. The New York Times

Obtido de https://www.nytimes.com/2019/11/10/world/americas/evo-morales-bolivia.html

Menezes, M. (2019). Bolsonaro diz que não vai cumprimentar presidente eleito da Argentina. Valor

Obtido de https://valor.globo.com/brasil/noticia/2019/10/28/bolsonaro-diz-que-nao-vai-cumprimentar-presidente-eleito-da-argentina.ghtml

Molina, F. R. (2019). Herança econômica 'maldita' de Macri perturba a transição argentina. El País Internacional

Obtido de https://brasil.elpais.com/brasil/2019/11/05/internacional/1572982294_541101.html

Sanches, M. (2019). O que une crises na Bolívia e no Chile, modelos da esquerda e da direita na América Latina. BBC

Obtido de https://www.bbc.com/portuguese/internacional-50386894

Zamorano, A. & Miranda, B. (2019). Por que Evo Morales renunciou à Presidência da Bolívia? 5 pontos-chave que explicam a decisão. BBC News

Obtido de https://www.bbc.com/portuguese/internacional-50373193


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